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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Vem aí mais uma lei idiota


Estava me esquecendo de comentar sobre a aprovação pelo Senado, na quarta-feira passada, do Projeto de Lei que acrescenta vários artigos ao atual Estatuto do Torcedor e torna mais rígidas as punições contra quem que praticar ou incentivar violência dentro dos estádios.


Bem, coibir a violência sempre é uma boa.

Só que, pra variar, a lei aumenta as punições para os torcedores desajustados mas pouco fala de fiscalização e do cumprimento efetivo destas penas. Por exemplo: quem for detido por violência ligada a jogos de futebol poderá ser preso por até três anos. A invasão do campo será igualmente punida com prisão e proibição de comparecer a jogos por até três anos. Hoje, o Estatuto do Torcedor prevê afastamento dos estádios por, no máximo, um ano. Aí é que tá: você conhece um só vândalo que tenha sido proibido de frequentar os estádios por um ano inteiro? Eu não sei da existência de um só caso sequer. O coxa Porks, por exemplo, um dos pivôs do pancadão do Couto, em dezembro, já foi visto nos jogos dos coxas várias vezes após o ocorrido. Ou seja: a lei não precisava ser endurecida, mas apenas cumprida.

Além disso, os excelentíssimos e doutos parlamentares mantiveram no texto do PL a previsão de punição para quem ousar proferir xingamentos a jogadores e juízes ou cânticos ofensivos (o que é exatamente um cântico "ofensivo"? Quem vai julgar o grau de ofensividade da música?). A pena para este "delito" também prevê detenção e proibição de assistir jogos por até três anos.

Ou seja, cuidado ao reclamar de um pênalti não marcado ou de um gol indevidamente anulado pela arbitragem. Se soltar um "feladaputa" é capaz de te tirarem do campo algemado. E o "Atirei o pau nos coxas" cantado nos atletibas a plenos pulmões pode resultar em lotação total nos DPs de plantão.

Aliás, se há um lugar no mundo feito pra soltar o verbo, esse lugar é o estádio de futebol. Como bem lembrou Antônia Schwinden em seu excelente Dez atleticanas e uma fanática, num capítulo dedicado justamente a este tema:

Anda com fé eu vou/ Que a fé não costuma faiá..., canta Gilberto Gil. Mas se falhar, no futebol, serve a porrada verbal. Porque há momentos e lugares em que só o palavrão resolve. Aliás, um certo narrador vem fazendo uma campanha dioscreta contra o palavrão nos estádios, com o argumento de que isso enfeia a festa "das famílias, mulheres e crianças". Apenas uma artimanha para formatar ainda mais o futebol aos padrões da televisão. E de quebra dar uma forcinha à máscara do "politicamente correto" que a tudo encobre... Vou apelar aqui a um estudioso da sociolingüística e suas explicações sobre essa forma de expressão popular para defender a hora e o lugar do palavrão. Lá nos idos dos anos oitenta, Dino Preti escreveu que a linguagem obscena em determinadas situações perde sua conotação injuriosa e, com isso, o vocabulário obsceno cresce e o chamado "palavrão" se desmistifica, contribuindo para a "rápida superação dos tabus morais que ele representa". (...) Um pouquinho mais do estudo de Preti: "Virou moda em certos ambientes em que nunca fora admitido antes, graça na boca dos jovens, hábito coletivo nos campos de esporte, onde mais livremente explodem as emoções populares". "Hábito coletivo", pois é. No jogo contra o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense (31/10/07), um de seus jogadores ouviu dos mais de 20 mil torcedores atleticanos - incluindo "famílias, mulheres e crianças" - durante aproximadamente cinco minutos um coro ritmado e uníssono de "vá-toma-no-cu" - que o Dicionário de Palavrão e Termos Afins, de Mário Souto Maior, traz assim grafado: "Vai-tomar-no-cu".

Tivesse ocorrido este episódio depois de tal lei, a PM iria precisar de um batalhão inteiro pra prender todo mundo que mandou o Tcheco tomar no cu naquela noite...

Antônia prossegue em sua narrativa:

Neste time de torcedoras, há controvérsias. Valéria é das que xingam: "Como é que você vai assistir a uma partida de futebol sem falar palavrão? Não tem como, você acaba xingando. Eu brinco que o jogo é também uma espécie de terapia. Tinha uma época que eu andava estressada, ia pro jogo e botava tudo pra fora, xingava, berrava... me fazia muito bem". Já Minhoca não entende como alguém consegue não falar palavrão em campo. "Até minha mãe, dona Joanita, chiquérrima, fala. Eu já ouvi minha mãe gritando: Chegou a hora, pega a bandeira enfia no cu e vai embora!". Quem leva criança geralmente faz como a Fabi: "A gente ensina a garotada a não falar palavrão, mas tem que fazer um acordo: dentro do estádio, pode. Só dentro do estádio, a garotada está liberada".

Se há algo que ofende a sociedade atualmente, não são os palavrões que ouvimos nos estádios desde sempre; mas sim as merdas feitas por nossos representantes nos poderes constituídos da República.

Isso sim, deveria ser banido e proibido por lei.

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